José António Paradela Costa Nova, agosto de 2007 Foto: LG |
O velório e o funeral serão na 5ª feira, dia 23, na sua terra natal, Ílhavo, da parte da tarde.
Estive com ele, pela última vez, na sua casa na Costa Nova, em 11 de janeiro último. Tinha regressado do hospital, mas vinha muito debilitado. Manteve uma conversa curta mas perfeitamemte inteligível e lúcida connosco, eu e a Alice. Já não saía da cama. Ainda lhe telefonámos há uma semana e tal, íamos a caminho do Norte, perto de Aveiro. Tinha regressado ao hospital,desta vez para morrer.
Pela primeira vez, nesse dia, 11 de janeiro, não veio almoçar connosco, num dos seus restaurantes
favoritos (ora na praia da Vagueira, ora na Costa Nova, junto à ria).
Era um homem afável, amigo do seu amigo. Amava os seus, amava a vida, adorava o mar, a ria de Aveiro, o rio Tejo, as Berlenga se, a fotografia, as viagens... Amava as coisas boas da vida. Tínhamos várias afinidades, desde a boa comida (os mariscos) à literatura, à música e à arquitetura.
Passávamos sempre um dia com ele e a Matilde, no verão, na Costa Nova, antes de rumarmos à Madalena ou a Candoz, mais a norte. Conhecíamo-lo há mais de 40 anos. Ele e a Matilde, e depois os seus filhos, Marco e Jorge, faziam parte do nosso círculo mais próximo de amigos.
Era membro da nossa Tabanca Grande, desde 2008, e tem mais de duas dezenas de referências no nosso blogue.
O Zé António, como bom ilhavense, era também ele, filho e neto de gente do mar, tendo passado, aos 16 anos, pela pesca do bacalhau, na Terra Nova... Foi verdadeiramente a sua tropa, a sua guerra da Guiné... Uma experiência, duríssima, de seis meses, que o marcou para sempre... Fez depois o serviço militar obrigatório ma Marinha na 2ª metade da década de 1950.
Formou-se, a seguir, em arquitetura, na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (para onde entrou no ano letivo de 1960/61). Chegou a ter o maior gabinete de arquitetura e planeamento de Lisboa, com mais de 6 dezenas de colaboradores, a empresa PAL - Planeamento e Arquitetura, Lda.
Fez os planos urbanísticos de muitas autarquias, em especial na região Autónoma da Madeira. Deixa inúmera obra edificada (hoteis, equipamentos desportivos, etc.) não só na região (ilhas da Madeira e Porto Santo) como por todo o país. Trabalhou no SAAL (1974-76), nomeadamente no Bairro da Curraleira-Embrechados – Arquitectos responsáveis: José António Paradela e Gravata Filipe, experiência de que falava com grande paixão.
Homem de múltiplos talentos e saberes, também desenhava e escrevia em prosa e em verso. Publicou uns cinco ou seis livros, em edição de autor, sempre a pensar nos amigos. A um deles deu o belíssimo título Uma Ilha no Nome: Crónica dos Dias Líquidos, que eu tive a honra e o prazer de prefaciar (**). Usava como pseudónimo literário Ábio de Lápara.
Também fiz três notas de leitura sobre o seu livro "A Rua Suspensa dos Olhos" (20156) (***).
Dos nossos amigos comuns, na Costa Nova, ainda há destacar: (i) o Jorge Picado, também nosso grã-tabanqueiro (**); (ii) o Valdemar Aveiro, um dos últimos capitães da Faina Maior. e ainda (iii) o dr. João Vizinho, outro ilhavense ilustre com casa na Costa Nova, médico do trabalho, meu velho amigo e companheiro das lutas da saúde ocupacional
À família enlutada, em particular à Matilde, o Marco e o Jorge, deixo pessoalmente um muito carinhoso abraço na dor e na saudade. Os pêsames também da Tabanca Grande.
2. Ábio De Lápara (José Paradela) partihou uma memória dos seus últimos 10 anos, escrevendo, pela última vez, na página do seu Facebook o seguinte:
6 de Fevereiro às 21:34 ·
Tempos felizes que cabem por inteiro na minha passada ambição. Deixaram sabores doces e tanto me basta.
6 de Fevereiro às 21:34 ·
Tempos felizes que cabem por inteiro na minha passada ambição. Deixaram sabores doces e tanto me basta.
O Zé António quando jovem marinheiro ("moço") a bordo do "Lousado", em 1955
Uma das últimas fotos do nosso amigo, aqui com a sua neta de 3 meses, filha do Marco Henriques.
Foto de cronologia no Facebook... Há uma hora, podia ler-se esta derradeira mensagem na sua págima do Facebook:
(...) Querido Facebook, o destino levou-me para um local etéreo, onde descanso agora. Como última paragem despeço-me de todos os meus amigos dia 23 na Igreja Matriz de Ílhavo, por onde andei em seu redor descalço durante a minha meninice. Agora, o início de algo que desconheço. Parti em Paz junto dos que me amam. Cuida da minha conta, meu Querido, um até já.. (...)
(**) Vd. poste de 30 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10596: Memória dos lugares (194): Ilhavo, Costa Nova... a terra do meu amigo e irmão mais velho e, porque não ?, meu camarada, o arquitecto Zé António Paradela, que hoje celebra 3/4 de século de existência, antigo marinheiro da pesca do bacalhau, último representante de um povo que tem o mar no ADN!... (Luís Graça)
(***) Vd. postes de:
___________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 20 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24081: In Memoriam (470): António Torres e Arquimínio Silva, recentemente falecidos: pertenciam à CCAÇ 3398 / BCAÇ 3852 (Buba, 1971/73) (Joaquim Pinto Carvalho)
(*) Último poste da série > 20 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24081: In Memoriam (470): António Torres e Arquimínio Silva, recentemente falecidos: pertenciam à CCAÇ 3398 / BCAÇ 3852 (Buba, 1971/73) (Joaquim Pinto Carvalho)
29 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15551: Notas de leitura (791): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José A. Paradela): reprodução do capítulo 7 com a descrição da viagem de seis meses, aos 17 anos, em 1955, aos bancos de pesca do bacalhau: II parte